DO PÉ-NA-BUNDA E OS SEUS DERREDORES
Ou de como as fêmeas desculpam facilmente os ditos homens sensíveis que jogam no Sigmund Freud Futebol Clube.
É, nunca acreditem num homem que faz análise. Não que o divã faça mal ao homem; é que o marmanjo faz mal juízo do divã. Nunca vai saber, de papo para cima, que um cachimbo é apenas um cachimbo e nada mais.
É mais fácil acreditar num homem que entenda de vinho, espécie também sob muita suspeita. Não que o vinho faça mal à espécie. Muito pelo contrário. É que o dito entendido tende a se levar a sério demais e confunde graduação alcoólica com sabedoria, Cabernet com poesia francesa.
O pior é que as mulheres adoram e desculpam, sob a rubrica de que são “homens sensíveis”, choram, qualquer animal que vai ou diz que vai ao divã. As mulheres modernas de classe média, então, só aceitam pés-na-bunda daqueles que praticam o esporte do velho Sigmund Freud. “Ah, o cara é cheio de problemas, o analista dele disse que... Está passando por um momento difícil, confusão existencial etc etc. Caguei pra Shakespeare!
Balela Futebol Clube.
Como as mulheres caem nesse conto!
Como desculpam, a pretexto do mito do homem sensível, a turma do divã, como se existisse homem sensível. É a melhor forma, não conheço outra, de dar um pé-na-bunda, com menos drama, no mulherio de classe média para cima. Diga o nome de um analista famoso, então, e tudo estará perdoado na bacia das pobres almas. Ah, não, o dr. Tenório disse que...
Por isso, creio cada vez mais, que o amor só seja amor de fato adonde não conviva com fantasmas dessa natureza. Não vou fazer como em mesa de bar, quando chego a crer, do verbo mais intransitivo, que talvez nem possa existir amor na classe média para cima – segmento movido a gasolina, status, casamento de resultado, fundos, derivativos e sexo ocasional.
Isso seria puro exagero retórico ampliado e envelhecido em barris de carvalho. Exagero puro para se fazer ouvir direito.
Não cometeria também o exagero de Nelson Rodrigues, padrinho espiritual desse cronista ao lado do escriba Antonio Maria, de dizer que o amor só existe hoje nos subúrbios e nas pequenas cidades interioranas. Longe disso.
É só um breve alerta para as moças ficarem de olho nesses cabras que se aproveitam da terapia ou da psicanálise, coisas mais do necessárias em muitos momentos da vida, claro, claríssimo, para arquitetarem os mais sinceros pés-na-bunda. O divã não pode chancelar esses crimes premeditados que já estavam engrenados na cabeça dos seus machos.
O divã é para ser usado lindamente, como naquela música homônima de Roberto Carlos: “Eu venho aqui me deito e falo/pra você que só escua/ Não entende a minha luta/ afinal de que me queixo/ são problemas superados/ mas o meu passado vive/em tudo que eu faço agora/ ele está no meu presente/ mas eu apenas desabafo/ confusões da minha mente.// Essas recordações me matam, essas recordações me matam!
Escrito por xico sá às 01h16
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